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Uma vida para o design


Aos 85 anos, e há quase 60 criando móveis, o arquiteto e designer Sergio Rodrigues é sinônimo de um acervo sempre atual. Foto: Marcos de Paula/AE


Marina Pauliquevis – O Estado de S.Paulo
Perguntado sobre sua idade, o arquiteto e designer Sergio Rodrigues brinca: “Sempre tenho que fazer as contas, nasci em 27”. Então, são 85 anos – completados ontem – e quase 60 deles dedicados ao desenho de móveis que ajudaram a traçar o caminho do mobiliário moderno nacional.
Desde a estreia, com o banco Mocho, de 1954, ele mostrou ser incansável na produção de móveis que tanto poderiam estar em casas quanto em palácios do governo ou suntuosas embaixadas, como a do Brasil em Roma.
Ainda nesse começo de carreira criou uma das peças mais icônicas do design nacional, a poltrona Mole – objeto de desejo de muitos e copiada por tantos outros. Feita não para se sentar, mas para se jogar sobre ela, a Mole tem uma robusta base de madeira, antes jacarandá, agora tauari, percintas de couro e um almofadão solto. Mas a primeira Mole não tinha o revestimento de couro que se vê hoje e, sim, de um tecido artesanal.
Foi com ela que Sergio Rodrigues conquistou espaço no exterior, depois de ganhar um concurso internacional na cidade italiana de Cantù, em 1961. Cinco anos mais tarde, uma loja em Carmel, na Califórnia, vendia exclusivamente sua marca Oca. “A demanda era tão grande que não conseguimos atender”, conta. A loja californiana fechou em 68.
Com o crescente interesse de estrangeiros pelo Brasil, os móveis de Sergio Rodrigues ganharam projeção na Europa e Estados Unidos nos últimos anos. Em 2011, ele ganhou um andar só com peças suas na loja Espasso, em Nova York, especializada em móveis brasileiros.
Por aqui, o interesse por seu mobiliário nunca desapareceu, mas ganhou força depois que começou a ser produzido pela Lin Brasil, que vem reeditando muitas das peças que antes só podiam ser compradas em antiquários, leilões ou lojas de móveis usados. Uma das mais recentes reedições é a poltrona Lia, de 1962, criada para uma segunda empresa do designer, a Meia Pataca. “Queria oferecer móveis com desenhos mais simples e preços mais baixos, mas com a qualidade da marca principal.”
Foram tantos os desenhos que ele diz não saber ao certo quantos viraram móveis mesmo. “Foram cerca de 1.200, segundo a conta de Maria Cecilia Loschiavo dos Santos”, diz ele em referência à filósofa e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que escreveu um livro sobre seu trabalho lançado em 2001 e esgotado (leia depoimento abaixo da galeria de fotos). “Um dia ela me procurou para uma conversa que acabou durando mais de 20 anos.”
Atualmente, ele tem ido menos ao ateliê, em um sobrado que ocupa desde o início dos anos 70, em Botafogo, no Rio. “Agora, só trabalho na hora que quero.” E ele se refere não só às atividades como designer de móveis, mas também como arquiteto – desenvolveu um sistema de casas pré-fabricadas misto de madeira e alvenaria – e designer de interiores, área em que contava com a parceria da filha Verônica, morta em março. Mas essa afirmação de independência não chega a ser novidade. “Sempre fui cliente de mim mesmo. Faço o que quero, não tenho de dar satisfação a ninguém”, disse mais de uma vez

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